terça-feira, 17 de agosto de 2010

É por isto (e muito mais) que gosto tanto dele...



E ela, que sempre nutriu uma paixão por jardins, onde passava horas cuidando, regando as begônias, margaridas, azaléias, rosas amarelas, foi aos poucos deixando de lado seu pequeno prazer. Já não se fazia presente naquele pequenino espaço de sua casa, não regava com tanto carinho, não conversava com os pingos-de-ouro. Foi se afastando, se afastando, até que não voltou mais. Probrezinho! Abandonado, o pequeno jardim queria saber o que atraía tanto a atenção daquela moça morena, com mãos de fadas, de voz aveludada e tamanha sensibilidade para entender o mundinho das plantas.


Um dia, quando a tarde caía preguiçosa com seu clima nublado e uma chuvinha que nada molhava, a moça se aproximou da janela com uma caneca de chá nas mãos. Por detrás das nuvens em tons cinzas e caramelados o sol emanava raios mansos. Uma brisa trazia o cheirinho de terra molhada e mato. Ela ama dias assim. Seus olhos foram passeando pelo quintal e avistou alí, perto do portão de entrada, ao lado direito, aquilo que antes havia sido seu motivo de prazer: o pequeno jardim. E foi tomada por um sentimento melancólico chamado saudade.

Eis o que restou: duas ou três margaridinhas teimosas que resitiram ao abandono. Ao redor, as ervas-daninhas já haviam se apossado de quase tudo. A fonte secou, a casinha dos beija-flores havia se transformado em casa de aranhas, repleta de teias. Ao perceber o estado sofrível do jardinzinho, decidiu ali mesmo retomar suas atividades e foi ao encontro de seu amiguinho, ela que nem estava sendo tão amiga assim nos últimos tempos.

Pegou as ferramentas, arrancou as ervas daninhas, retirou as lesmas, colocou adubo. Preparou o solo para semear suas flores preferidas: papoulas, lírios, margaridas, jasmins e girassóis, muitos girassóis! Consertou a fonte. A água voltou a correr. Limpou a casinha dos beija-flores e por fim, colocou um balanço na árvore.

Pronto! Seu jardim havia sido recuperado. A moça morena sabe que quando o jardim de dentro não está sendo cuidado, esquece-se também do jardim de fora. "Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles."

Ás vezes, deixamos de lado aquilo que tanto nos dá prazer. Esquecemos que são as coisas simples que deveríamos considerar as mais importantes. Jardim é apenas uma metáfora. Mas ele pode ser tudo aquilo que foi importante para nós em um determinado momento de nossa vida. E fomos tão felizes. Pode ser uma amizade separada pelo tempo ou distância, ou, quem sabe, por um desentendimento. Pode ser também algo que gostávamos de fazer, como uma atividade artística, espiritual, sei lá! Volte a cuidar de seu "jardim". Vá fazer as coisas que te fazem feliz. Volte a ouvir as canções que fazem teu coração sorrir. Vá aprender a tocar um instrumento. Não perca seu tempo com pessoas que não te acrescentam. Esteja ao lado de quem vai mesmo te fazer sentir bem, e faça bem a esta pessoa também. Permita que as coisas simples permeiem a sua vida. E seja feliz, é o que eu desejo de todo o coração!

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Do livro: Mansamente pastam as ovelhas (Rubem Alves)

Um comentário:

  1. bah!!! adorei mto...li e reli e fiquei parada pesando... adorei o texto e a mensagem!!
    bjus

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